Publicado originalmente no Jornal O DIASP (leia aqui)
A crise da segurança pública no Brasil não é apenas um problema de violência, mas de desarticulação institucional. Enquanto a população clama por proteção, as forças responsáveis pela segurança — Polícia Militar, Polícia Civil, Guarda Municipal e Polícia Federal — operam, muitas vezes, de forma isolada, com pouca comunicação e sem um plano tático integrado. O resultado é um sistema fragmentado, ineficiente e, por vezes, violento.
A solução passa pela construção de um verdadeiro SUS da segurança pública — um sistema nacional articulado, com base em diretrizes comuns, divisão racional de responsabilidades e atuação conjunta. Assim como o Sistema Único de Saúde, a segurança precisa funcionar em rede, com cooperação entre União, Estados e Municípios, sob coordenação do Ministério da Justiça e Segurança Pública.
É urgente abandonar a lógica de confronto puro e simples. Humanizar a segurança não é ser conivente com o crime, mas reconhecer que repressão sem inteligência gera mais violência. A polícia precisa ser treinada para proteger, não apenas para reagir. Programas de formação continuada, com foco em direitos humanos, resolução de conflitos e atuação preventiva, são indispensáveis.
A integração tática entre as polícias e guardas civis deve ser acompanhada de sistemas unificados de informação, planejamento conjunto de operações e troca eficiente de dados. A Polícia Federal pode assumir papel de liderança estratégica, com expertise em inteligência, tecnologia e crimes interestaduais, auxiliando os entes locais.
Cabe ao Ministério da Justiça e Segurança Pública liderar esse redesenho institucional. É preciso repensar políticas públicas com base em evidências, promover o uso racional de recursos, fortalecer as ouvidorias externas e criar metas de desempenho voltadas não apenas para prisões e apreensões, mas para a redução efetiva da violência.
A crítica que se impõe é a da omissão planejada. Temos orçamento, temos estrutura, temos pessoal. Falta vontade política e compromisso com um modelo de segurança que proteja sem segregar, que combata o crime sem criminalizar a pobreza. É preciso investir em segurança, capacitar os seus profissionais, com remuneração digna e planos de carreiras atrativos. Nas provas de admissão (concursos públicos), ao invés de focar nos exercícios físicos, por que não na matemática financeira e contabilidade, para combater o crime organizado?
Finalmente, Segurança Pública não se faz apenas com armas, mas com inteligência, humanidade, empatia, articulação e integração. O Brasil não pode mais esperar. É hora de um pacto real pela vida.
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